terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A Lucidez de Ophelia

Louca, louca Ophelia.
Voltada a sí mesma, mergulhando em pensamentos.
Fazendo da louca realidade um teatro.
E desse teatro, construindo sua verdade.
Bailando, bailando entre cômodos tristes.
Baila Ophelia! Esquece o silêncio da normalidade.
Paredes antigas, cobertas de insuportável bolor.
Conversando com todos, conversando com ninguém.
- Olhe ! lá vai Ophelia e seus fantasmas.
Com seus fantasmas pôs-se a passear.
Vagando em direção a solidão;
A solidão que não a deixava sozinha.
A solidão que não a chamara de louca.
A solidão que mostrava o rosto desses que partiram.
Dançando ao som de sua própria voz, o canto melancólico e ferido.
Murmurando seus anseios, entregando-se a cada nota.
Música que levou-a proxima de um salgueiro, que belo salgueiro !
Sentença de sua morte em contraste com as cristalinas águas.
E assim cumpriu-se o destino de Ophelia.
Pôs-se a subir e pindurar sua grinalda de folhas e flores;
Que preparavam-se para enfeitar o novo leito de paz .
Caíram assim como sua dama.
E a água lavou suas mágoas.
Suas notas foram as últimas.
Não lutou, não se debateu.
Alí estava tranquilo, o riacho á acolheu.

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