sábado, 26 de novembro de 2011

Oh! Ai de mim. Parte de minha parte. Meu homem.

Te busquei em outros olhares... Te procurei no imenso céu desde o nascer do sol á aurora. Olhei entre as estrelas e meu espírito pairando além das estrelas gritou seu nome e nenhuma resposta pude conceber além do eco de ti em meu interior. Tua imagem e teu espírito pairam ao meu redor como nas antigas fábulas que permeiam meu ser. Te desejei em Tristão e Isolda. Em madrugadas o disco de Richard Wagner soou e manteve vivo teu ser como parte de meu ser. Cada nota soava como tua voz, teu sopro, tua canção, tua descrição. Te desejei ao assistir ''Coração Valente'' e perguntei-me infinitas vezes se nesta ''vida'' poderia existir um homem que morresse por mim e honrasse meu nome, assim como eu o faria tendo levado a sombra de tua face comigo ao túmulo, ao inferno e além deste.
Te desejei até mesmo nas fábulas mais infantis como as princesas que anseiam por teus amados debruçadas em tuas janelas. E toda essa narrativa permeada de ti me faz esquecer o mundo ao redor. E recordar um mundo que não é daqui. Uma parte falta em minha vida, em minha existência amarga, esta parte é ti meu amado, meu amor platônico e até então anônimo. Te conheço! Sim, eu sei que te conheço! Não poderá nada e ninguém nesse mundo me dizer o contrário. Estou vazia... Prefiro a morte!  Se for para tentar amar pela metade, amar ilusoriamente e sofrer ao término desta união. Um amor puro e o brilho no olhar que diz ''parte de tua parte'' não carregaria em si o fim. Me sinto velha, me sinto antiga... Exausta. Me sinto Virgem, me sinto Donzela e me sinto Anciã. Sinto como se já tivesse sido amante, mãe e esposa. Tivesse feito juras de amor eterno e fidelidade, tais que nem a morte pudesse apagar e que a morte não apagou. O momento em que nossos espíritos se cruzarem, esse mundo, esse universo se dissolverá. Derreterá qual um quadro com a tinta ainda fresca exposto a uma tempestade. Tudo irá parar e desejarei não fazer mais nada, a não ser contemplar o momento. E reafirmar minha fidelidade e amor eterno. 
O que preenche esse vazio é a melancolia, se é que posso chamar de melancolia. Palavras são insuficientes para descrever tamanho abismo. Preciso de ti! Mantenho-me só... Solitária e presa ao devaneio de tua presença. Escolhi tal condição que me encontro sendo um auto-sacrifício perante ao que acredito.
Vi partes de ti em outros homens mas a forma que os admirei estão muito longe do amor e relacionamentos mundanos. No entanto deixei em sigilo, por serem sentimentos puros. Pude amar seus espíritos como se refletissem partes do que és como um todo. A chuva nesse momento cai lá fora e gotas escorrem por minha janela. Olho para fora buscando tua imagem e nada encontro além do choro das nuvens.  E me pergunto se estarias pensando em mim como eu a pensar em ti. Parece que morrerei sozinha. Onde estarias? Talvez, na ''linha'' deste tempo maldito me surpreendas e apareça de onde eu menos espere. Mas por enquanto minha vida nessa terra de ilusões se resume á música de Chopin, Funeral March. Morrerei só mas com a enorme e nítida sensação de nostalgia, de morrer com tua imagem viva em meus pensamentos. Como sempre foi e será! Nossa ligação não morre, faço parte de ti como fazes parte de mim, somos complementos eternos. E nenhum outro poderia substitui-lo.
Aqui jaz M! Jaz com a memória que nem mesmo este Kairos foi capaz de destruir. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Empty Streets. Desire or disease?!



Lembrança de morrer

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro...
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro...

Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia,
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade — e dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
E de ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minhas tristezas te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos, — bem poucos! e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei!... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Ó tu, que à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se vivi... foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu! eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz! e escrevam nela:
— Foi poeta, sonhou e amou na vida. -

Sombras do vale, noites da montanha,
Que minh'alma cantou e amava tanto,
Protejei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe um canto!

Mas quando preludia ave d'aurora
E quando, à meia-noite, o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri as ramas...
Deixai a lua pratear-me a lousa!

Álvares de Azevedo

segunda-feira, 14 de novembro de 2011